terça-feira, 19 de julho de 2011

Teoria X Y MacGregor


Estudando há algum tempo o assunto “Motivação de Servidores Públicos”, venho me deparando com trabalhos por grandes pensadores, administradores, sociólogos e escritores, dos quais posso até discordar, mas jamais ignorar.

Recentemente conheci alguns textos relacionados a pensador chamado Douglas MacGregor, Economista, Professor de Harvard, PHD em Psicologia Social e Professor do MIT.

McGregor escreveu “O lado humano das organizações” em 1960 e definiu as Teorias X e Y que segundo ele norteavam as relações entre as empresas e seus trabalhadores.

Confesso que ao iniciar a leitura fiquei estarrecido com a Teoria X e voltei ao prefácio para ver se realmente tratava de uma obra da década de 60 (1960) ou de dois séculos antes.

Para ele na Teoria X:

a) O ser humano ordinário, sente repugnância interior ao trabalho e o evitará sempre que puder.

b) Devido a esta tendência ao se abstrair do trabalho à maioria das pessoas tem que ser obrigadas a trabalhar a força. Devem ser controladas, dirigidas e ameaçadas com castigos. Isso para desenvolverem o esforço necessário para realização dos objetivos da instituição a que pertencem.

c) As pessoas comuns preferem que os dirijam, querem se subtrair de suas responsabilidades. As Pessoas não têm ambição, e não desejam mais nada que sua segurança.

Já para a Teoria Y:

a) O desenvolvimento do esforço no trabalho é natural. Ao ser humano comum não lhe irrita essencialmente trabalhar.

b) O controle e a ameaça de castigo não são os únicos meios de canalizar o esforço, o homem deve se dirigir e se controlar em serviço dos objetivos, cuja realização se compromete (e assim o faz naturalmente).

c) O ser humano compromete-se à realização dos objetivos da empresa pelas compensações associadas com seu lucro.

d) As pessoas se habituam a buscar responsabilidades. A falta de ambição e a insistência na segurança são, geralmente, conseqüências da mesma experiência e não características essencialmente humanas.

e) A capacidade de desenvolver em grau relativamente alto a imaginação, o engenho e a capacidade criadora para resolver os problemas da empresa, são características de grande parte da população.

Adicotomia é evidente e conta-se que ao perceber que uma anulava a outra, MacGregor passou a elaborar a Teoria Z.

Entendo que o ser humano é tão complexo que as letras do alfabeto são insuficientes para enumerar tantas as características dos grupos sociais e m um dado momento e em espaço geográfico. Assim teríamos que elaborar a Teoria X.1, A.3.2, etc.

Douglas conseguiu captar, em nossa opinião, duas características marcantes das organizações empresariais e a forma como se relacionam com seus subordinados. Em algumas delas o ser humano é apenas mais uma ferramenta para implementar lucros e devem ser sugados à exaustão. É óbvio que esse tempo já passou. As empresas que possuem administração de ponta, que produzem melhores resultados tratam o capital humano como verdadeiros parceiros, colaboradores e praticamente decretaram a extinção da administração baseada na Teoria X.

Mas e no serviço público? Na realidade essa é a discussão que este resumido trabalho procura estabelecer. Certamente em muitos setores da Administração Pública permanece em vigor a administração baseada na Teoria X. Infelizmente o próprio legislador, por vezes parece contaminado por esse tipo de raciocínio.

Parece-nos evidente que o desenvolvimento da boa Administração Pública anda a distantes e lentos passos da Administração Privada.

Muito preocupada em evitar abusos, prevaricação e utilização indevida da Coisa Pública.

O que realmente provocou a derrocada da aplicação da Teoria X foi certamente sua incapacidade de produzir os resultados desejados, já que o ser humano não pode ser tratado como uma máquina. Entender a psique humana e colocá-la a favor do desenvolvimento e alcance dos objetivos da Instituição é uma verdadeira arte desenvolvida pelos especialistas em RH no setor privado.

Mas até quando andará o Setor Público a reboque das experiências e sucessos da administração privada?

Algumas experiências merecem destaque e essa realidade começa a mudar mas ainda a passos lentos.

Os Administradores públicos precisam se adaptar à Teoria do Y e serem capacitados para administrar os Recursos Humanos que lhe são colocados à disposição às custas dos escassos recursos custeados por uma sociedade afligida por uma carga tributária excessiva.

É preciso tirar “água de pedra” é preciso formar lideres, é preciso capacitar a mão de obra, é preciso acreditar que o ser humano é complexo e que sua maioria se enquadra na Teoria Y de MacGregor. É necessário encontrar meios capazes de criar no servidor a mentalidade de que é um colaborador, que seu trabalho é importante e quem sem ele os objetivos não serão alcançados.

Assim, é óbvio que os objetivos precisam estar claramente estabelecidos e o joio ser separado do trigo.

Que me desculpem os líderes sindicais e representantes de classes, mas alguns deles estão sempre a lutar por promoções automáticas. Essa preocupação é justa e louvável. Mas não valoriza o bom servidor. As promoções não podem ser um presente, mas um prêmio para aqueles que merecem.

É bem verdade que muitos chefes não estão capacitados para operar uma mudança paradigmática, mas não há, em nossa opinião outra forma de alcançar a eficiência no serviço público preconizada pela Constituição Federal.

Os chefes precisam ter liberdade para buscar melhores resultados sem se preocupar com tantos obstáculos, controles internos, externos, Tribunais de Contas, Corregedorias etc. Essa mudança precisa partir dos mais altos escalões as boas práticas precisam ser divulgadas, aplaudidas e premiadas. Hodiernamente um “diplomazinho” de honra ao mérito não enaltece mais ninguém. Somente um prêmio que provocasse a ambição dos servidores a se fazerem merecedores deveria ser instituído.

Imaginem se todos os atletas que vão à olimpíada fossem servidores públicos com o mesmo salário, mesmas promoções e sem nenhum fato motivador; que teria apenas o direito de assumir uma chefiazinha, ganhar uma medalhinha ou um diplomazinho. Certamente aqueles que se dispusessem a apresentar melhores resultados “fugiriam” do serviço público na primeira oportunidade.

CONCLUSÃO

Assim, curvo-me ao ensinamento de Douglas MacGregor, que o serviço Público abrace rapidamente a Teoria Y para o bem de toda a Sociedade que anseia por serviços públicos de qualidade, seja na Segurança Pública, na Saúde, na Educação etc.



sexta-feira, 20 de maio de 2011

Gestão do conhecimento

"Os indivíduos em seus processos criativos e de aprendizado dependem de grande motivação intrínseca, assim como de interação com outros, da combinação de múltiplas perspectivas e experiências"



Vivemos um momento de importante transição do ambiente econômico, onde a gestão próativa do conhecimento adquire um papel central para a competitividade tanto das empresas, como dos países. Isto, entretanto, nem sempre foi assim, pois, no passado, vantagens de localização, assim como o acesso à mão-de-obra barata, recursos naturais e ao capital financeiro tinham papéis muito mais determinantes.

No Brasil, verifica-se que o recurso "conhecimento" vem aumentando aceleradamente sua importância para o desempenho empresarial e que os desafios impostos pela relativa e recente abertura econômica tornam a questão da gestão do conhecimento ainda mais fundamental para as empresas brasileiras. Acreditamos que sem estratégias empresariais, setoriais e nacional muito bem concatenadas e, rapidamente implementadas, fica muito difícil imaginar que as empresas brasileiras conseguirão se tornar competitivas e, mesmo, sobreviver aos desafios impostos pela competição internacional.

O modelo econômico de substituição de importações, adotado até recentemente pelo Brasil, privilegiava o "aprender ao operar". A abertura econômica e a competição interna e externa com empresas de países desenvolvidos, contudo, tornam outras formas de aprendizado muito mais relevantes e requerem uma reversão nas tendências de estagnação dos gastos públicos em C&T e de falta de cooperação entre as instituições de pesquisa e o setor público, além de um aumento nos gastos de P&D privados ainda muito baixos.

Buscando corroborar as afirmações acima sobre a magnitude do desafio brasileiro, várias evidências encontradas em diversos estudos e bases de dados mostram que a relativamente recente abertura econômica vem impondo importantes desafios às empresas brasileiras e aumentando a necessidade do investimento em tecnologia, em educação e da gestão do conhecimento, de maneira geral.

A Gestão do Conhecimento vai, no entanto, muito além, do investimento em tecnologia ou o gerenciamento da inovação. A Gestão do Conhecimento nas organizações passa, necessariamente, pela compreensão das características e demandas do ambiente competitivo e, também, pelo entendimento das necessidades individuais e coletivas associadas aos processos de criação e aprendizado:

De um lado, é evidente que estamos vivendo em um ambiente cada vez mais turbulento, onde vantagens competitivas precisam ser, permanentemente, reinventadas e onde setores de baixa intensidade em tecnologia e conhecimento perdem, inexoravelmente, participação econômica. Neste contexto, o desafio de produzir mais e melhor vai sendo suplantado pelo desafio, permanente, de criar novos produtos, serviços, processos e sistemas gerenciais. Por sua vez, a velocidade das transformações e a complexidade crescente dos desafios não permitem mais concentrar estes esforços em alguns poucos indivíduos ou áreas das organizações.

Os trabalhadores, por sua vez, vêm aumentando, de forma considerável, seus patamares de educação e aspirações, ao mesmo tempo que o trabalho passa a ter um papel central em suas vidas. De fato, verificase que os "indivíduos organizacionais", de forma crescente, se realizam sendo criativos e aprendendo constantemente.
Esta coincidência aponta, de um lado, para uma grande oportunidade: a de se criar círculos virtuosos de geração de conhecimentos. Estes ocorrem no momento em que as empresas cientes da necessidade de se reinventarem, de desenvolverem suas competências, de testarem diferentes idéias, de aprenderem com o ambiente e de estarem sempre buscando grandes desafios, adotam estilos, estruturas e processos gerenciais que desencadeiam processos semelhantes no nível individual.
A revisão da literatura mostra que os processos de criação e aprendizado individual, de forma análoga ao processo organizacional, demandam e implicam em reinvenção pessoal, ou seja, estão associados à mudanças de modelos mentais, mapas cognitivos e de comportamentos, assim como à busca de grandes desafios e resoluções de tensões internas. Além do mais, também se verifica que os indíviduos, em seus processos criativos e de aprendizado, dependem de grande motivação intrínseca, assim como da interação com outros, da combinação de múltiplas perspectivas e experiências e, finalmente, de tentativas e erros pessoais.

Os conceitos acima, bastante associados aos das "Learning Organizations" ou das "Knowledge Creating Companies", não são, todavia, facilmente traduzíveis, transferidos e aplicáveis à prática gerencial. É com esta perspectiva que precisa-se analisar os "Facilitating Factors" ou "Enabling Conditions", ou seja, as práticas, normas e processos que estimulam ou inibem a captação, geração, difusão e armazenamento de conhecimento pelas organizações

sexta-feira, 1 de abril de 2011

OS 12 MAIORES ATRIBUTOS DA LIDERANÇA

"Liderança" é um tema que vem sendo discutido desde os mais remotos tempos pelo homem. Ser líder, formar líderes, parece ser um desafio constante do homem e das organizações. Aqui vão alguns resultados de pesquisa feitas na Europa com mais de 500 executivos de todos os tipos de industria. Essa pesquisa é muito interessante. Ela mostra coisas simples, objetivas e fornece conselhos úteis para todos nós que desejamos vencer, alcançar o sucesso pessoal e profissional.


Espero que a leitura atenta destas descobertas e seus comentários possam trazer benefícios reais aos leitores.

DISPOSIÇÃO PARA TENTAR O QUE NÃO FOI TENTADO ANTES

Nenhum empregado deseja ser guiado por um administrador a

quem falte coragem e autoconfiança. É o estilo de liderança positiva aquele eu ousa nas tarefas e se vale de oportunidade não tentadas anteriormente.

Um Gerente de Vendas bem sucedido irá às ruas e venderá junto com seus vendedores quando o mercado está difícil ou quando o pessoal de vendas encontrar-se sob extrema pressão. Tal gerente sabe que se arrisca a tornar-se impopular. Contudo, ao liderar pelo exemplo, manterá a motivação da equipe.


AUTO MOTIVAÇÃO


O Gerente que não consegue se auto-motivar não tem a menor chance de ser capaz de motivar os outros.


UMA PERCEPÇÃO AGUDA DO QUE É JUSTO


Esta é uma grande qualidade de um líder eficaz e a fim de ter o respeito da equipe, o gerente deve ser sensível ao que é direito e justo. O estilo de liderança segundo o qual todos são tratados de forma justa e igual sempre cria uma sensação de segurança. Isso é extremamente construtivo e um grande fator de nivelamento.

PLANOS DEFINIDOS

O líder motivado sempre tem objetivos claros e definidos e planejou a realização de seus objetivos. Ele planeja o trabalho e depois trabalha o seu plano coma participação de seus subordinados.

PERSEVERANÇA NAS DECISÕES

O gerente que vacila no processo decisório mostra que não está certo de si mesmo, ao passo que um líder eficaz decide depois de ter feito suficientes considerações preliminares sobre o problema. Ele considera mesmo a possibilidade de a decisão que está sendo tomada vir a se revelar errada.

Muitas pessoas que tomam decisões erram algumas vezes. Entretanto, isto não diminui o respeito que os seguidores têm por elas. Sejamos realistas: um gerente pode tomar decisões certas, mas um líder eficaz decide e mostra sua convicção e crença na decisão ao manter-se fiel a ela, sabendo, no entanto, reconhecer quando erra. Assim, seu pessoal tem força para sustentar aquela decisão junto com o gerente.

O HÁBITO DE FAZER MAIS DO QUE AQUILO PELO QUAL SE É PAGO

Um dos ônus da liderança é a disposição para fazer mais do que é exigido do pessoal. O gerente que chega antes dos empregados e que deixa o serviço depois deles é um exemplo deste atributo de liderança.

UMA PERSONALIDADE POSITIVA

As pessoas respeitam tal qualidade. Ela inspira confiança e também constrói e mantém uma equipe com entusiasmo.

EMPATIA

O líder de sucesso deve possuir a capacidade de colocar-se no lugar de seu pessoal, de ser capaz de ver o mundo pelo lado das outras pessoas. Ele não precisa concordar com essa visão, mas deve ser capaz de entender como as pessoas se sentem e compreender seus pontos de vista.

DOMÍNIO DOS DETALHES

O líder bem sucedido entende e executa cada detalhe do seu trabalho e, é evidente, dispõe de conhecimento e habilidade para dominar as responsabilidades inerentes à sua posição.

DISPOSIÇÃO PARA ASSUMIR PLENA RESPONSABILIDADE

Outros ônus da liderança é assumir responsabilidade pelos erros de seus seguidores. Caso um subalterno cometa um erro, talvez por incompetência, o líder deve considerar que foi ele quem falhou. Se o líder tentar mudar a direção dessa responsabilidade, não continuará liderando e dará insegurança a seus seguidores. O clichê do líder é:  "A responsabilidade é minha".

DUPLICAÇÃO

O líder de sucesso está sempre procurando maneiras de espelhar suas habilidades em outras pessoas. Dessa forma ele faz os outros evoluírem e é capaz de "estar em muitos lugares diferentes ao mesmo tempo".
Talvez este seja um dos maiores atributos de um líder: ser capaz de desenvolver outros lideres. Pode-se julgar um líder pelo número de pessoas em que ele refletiu os seus talentos e fez evoluir.

UMA PROFUNDA CRENÇA EM SEUS PRINCÍPIOS

A expressão "A menos que batalhemos por alguma causa, nos deixaremos levar por qualquer causa" resume bem a importância de ter-se uma causa pela qual valha a pena viver e trabalhar. Nada cuja aquisição tenha valor é muito fácil. O líder de sucesso tem a determinação de atingir objetivos não importando os obstáculos que surjam pelo caminho. Ele acredita no que está fazendo com a determinação de batalhar por sua realização.

Minha sugestão é a de que você leia uma, duas ou três vezes cada um desses atributos e medite cada um deles à luz de sua própria realidade como um profissional que tem a função de gerenciar, comandar, liderar pessoas. Detenha-se sobre cada um dos atributos e dê a você mesmo uma nota de zero a 10 em cada um deles, fazendo um propósito de auto–aperfeiçoamento. Repita essa auto-avaliação semanalmente

 
Por  Neli Barros & LAM

segunda-feira, 14 de março de 2011

Educação a distância no Brasil

Estamos numa fase de consolidação da EAD no Brasil, principalmente no ensino superior com crescimento expressivo e sustentado. O Brasil aprende rápido e os modelos de sucesso são logo imitados. Passamos de importadores de modelos de EAD para desenvolvedores de novos projetos, de programas complexos implantados com rapidez. Algumas razões principais para esse crescimento rápido: demanda reprimida de alunos não atendidos, principalmente por motivos econômicos. Muitos alunos são adultos que agora podem fazer uma graduação ou especialização. Com a LDB o Brasil legalizou o ensino superior a Educação a distância pela primeira vez. Por falta de termos instituições grandes em EAD como em outros países pudemos com a Internet passar do modelo por correspondência para o digital. O brasileiro aprende rapidamente, é flexível, se adapta a novas situações.

Ao mesmo tempo a EAD sempre esteve vinculada no Brasil ao ensino técnico, desde a década de 40 com o Instituto Monitor e o Instituto Universal Brasileiro. Depois ao ensino de adultos - os antigos supletivos - com os Telecursos. Por isso ainda resiste o preconceito com a EAD principalmente no ensino superior.





É muito difícil fazer uma avaliação abrangente e objetiva do ensino superior a distância no Brasil, pela rapidez com que ela se expande nestes últimos anos, porque a maior parte das pesquisas foca experiências isoladas e porque há um contínua inter-aprendizagem, as instituições aprendem com as outras e evoluem rapidamente nas suas propostas pedagógicas.





O foco nos primeiros anos era a capacitação dos professores em serviço. Depois as licenciaturas, em geral. Agora os cursos que mais crescem são os de especialização, que encontram um aluno mais maduro, motivado e preparado. A maior parte das instituições utiliza o material impresso como mídia predominante (84%). A Internet vem crescendo, e ocupa o segundo lugar, com 63% de instituições que a utilizam em EAD.

O auxílio mais oferecido como suporte aos alunos é o e-mail, com 87%; na seqüência vem o telefone, com 82%; depois destaca-se o auxílio do professor presencial; com 76%; e do professor on-line, com 66%. Alternativas como o fax chegam a 58%; cartas, a 50%; reuniões presenciais, a 45%; e reuniões virtuais, por último, com 44%.

A maior parte das instituições começa sua atuação em EAD de forma isolada, e com alcance predominantemente regional. Mas há atualmente uma evolução forte para a formação de associações pontuais ou mais estáveis, como os consórcios. Há também uma mobilização grande das universidades públicas, que se unem pressionadas pelo governo federal para participar de projetos de formação de professores através da UAB – Universidade Aberta do Brasil e cursos na área de administração em convênio com empresas estatais inicialmente. Há um crescimento gigantesco dos cursos por satélite com tele-aulas ao vivo e tutoria presencial mais apoio da Internet. Uma parte das instituições só oferece os cursos pela WEB.





Cursos em EAD muito diversificados



Cursos prontos para alunos individualmente

Temos cursos prontos, com instruções precisas para o aluno, baseados em materiais on-line, em cases, animações, pequenos vídeos e atividades que o aluno realiza durante um período determinado e que envia os resultados das atividades a um centro que as corrige, normalmente, de forma automática e atribui um conceito que permite o avanço do aluno para uma nova etapa. A grande vantagem destes cursos é a flexibilidade de tempo. O aluno pode começar e terminar dentro do seu próprio ritmo. O curso pode acontecer a qualquer momento. Não precisa reunir uma turma específica, com determinado número de alunos. Isso facilita para a instituição e para o aluno.

Muitos cursos utilizam só materiais textuais disponibilizados na Internet. Outros acrescentam apresentações em PowerPoint, trechos de vídeos, gravações em áudio, um design para a Internet mais leve, de fácil navegação e com formatos hipertextuais e multimídia.

Esses cursos precisam de um aluno maduro, auto-suficiente e auto-motivado. Normalmente dão mais certo com profissionais que já estão atuando no mercado e que querem evoluir na carreira ou que são pressionados para atualização constante.

Outros cursos combinam uma proposta fechada, pronta com alguns momentos de interação. O aluno tem a sua disposição um tutor ou um orientador on-line, para dúvidas por e-mail ou em alguns horários determinados. São cursos prontos, focados no conteúdo, com algum apoio para tirar dúvidas, para encaminhamento de trabalhos, mas fundamentalmente são direcionados para os alunos individualmente.





Cursos para pequenos grupos

Outros cursos preparam os materiais, as atividades, mas acontecem simultaneamente em grupos e permitem que se organizem atividades individuais e coletivas, incentivam a participação em determinados momentos. São preparados, mas dependem para o seu sucesso do envolvimento real dos alunos. Mas ainda estão centrados no material e nas atividades, com apoio de professores e orientadores. Em geral começam e terminam em tempos semelhantes, com quantidade mínima de alunos simultaneamente. Combinam a flexibilidade individual com alguns momentos de interação com orientadores e com os colegas.

Há cursos com propostas mais abertas. O professor cria alguns materiais, atividades, questões e os alunos se organizam na escolha dos tópicos, dos materiais, das pesquisas, da produção. São cursos mais centrados na colaboração dos alunos do que no professor e pressupõem alunos com muita maturidade, motivação e capacidade de aprender juntos. Em geral são para um número relativamente pequeno de alunos.





Cursos para grandes grupos



Sempre se buscou atender a muitos alunos ao mesmo tempo. Até agora a televisão continua imbatível para atingir a milhares de alunos ao mesmo tempo. O modelo mais aperfeiçoado foi o tele-curso, com programas produzidos por equipes profissionais, com apoio de material impresso e recepção organizada em salas com um tutor. O Brasil, onde a televisão domina, nunca conseguiu implantar permanentemente uma política de educação a distância via TV. Sempre tivemos experiências isoladas, descontínuas, embora importantes. A rede de TVs educativas nunca foi efetivamente uma rede contínua. Houve freqüentes tensões de produção entre o Rio (TVE) e São Paulo (TV Cultura). Não houve uma política permanente e consistente de apoio à TV educativa e a obtenção de canais educativos regionais serviu mais para atender a interesses de pessoas e grupos do que a fins educacionais.

Países como a China e a Índia ainda hoje capacitam milhões de alunos através da TV, enquanto no Brasil só temos ações pontuais. . Destacamos atualmente o ProFormação, curso de capacitação a distância, promovido pela SEED – Secretaria de Educação a Distância do MEC - para professores no nível médio, e que utiliza a TV (TV Escola) e material impresso, com tutoria regional. O ProFormação já capacitou até agora a mais de trinta mil professores em serviço.

Outro programa importante é o “TV e os desafios de hoje”, curso de extensão para professores utilizando a TV, o material impresso e tutoria. Atualmente também tem uma versão na Internet, que será substituído em 2006 pelo curso modular, “Mídias na Educação”, por Internet e alguns momentos presenciais.

Creio que o Brasil queimou a etapa da TV sem aproveitá-la de verdade e atualmente o fascínio gira em torno da Internet, esquecendo que a televisão pode ser um caminho muito interessante, combinado com outras mídias, como a própria Internet.

Os cursos de massa hoje utilizam predominantemente a teleconferência como mídia principal. Na teleconferência um professor transmite sua aula para muitas salas espalhadas pelo país com até cinqüenta alunos por sala e acompanhados por um tutor local que faz a ponte presencial com o professor e tutores que estão on-line. Os alunos podem fazer algumas perguntas pela Internet, fax, telefone, por controle remoto. Essa mistura de aulas ao vivo, atividades on-line e texto impresso é um modelo promissor para alunos que têm dificuldade em trabalhar sozinhos, em ter autonomia intelectual e gerencial da sua aprendizagem.



Parcerias e consórcios em EAD

As expectativas sobre o sucesso dos consórcios foram grandes no fim da década de noventa. Mas a realidade é desigual. Alguns consórcios estão caminhando bem e outros ainda não avançaram tanto quanto o prometido ou esperado. Há uma retomada atualmente de parcerias para cursos principalmente de licenciatura, nas universidades públicas com apoio do MEC.

O modelo mais tradicional adaptado das Universidades tradicionais a distância da Europa surge na Universidade de Brasília, de forma pioneira e intermitente e foi desenvolvido na graduação de forma pioneira no curso superior de Pedagogia para os anos iniciais pela Universidade Federal do Matogrosso, em Cuiabá. Parte do material impresso, e pólos regionais, com tutores locais. Desde 1995, já formou mais de 15 mil professores para atuar no ensino fundamental.

Esse modelo é replicado e aperfeiçoado por muitas universidades, entre elas as do Estado do Rio de Janeiro, no Projeto CEDERJ que incluem a Internet como espaço de disponibilização de material e de interação. O Cederj é formado pelo governo do Estado do Rio e seis instituições públicas: a UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense), UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), UFF (Universidade Federal Fluminense), UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e Unirio. Toda a estrutura do Cederj é mantida por uma fundação criada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro. Os alunos matriculados não têm custos quanto a mensalidades, já que as instituições participantes são públicas. Assim, quem cursa uma graduação pelo Cederj está regularmente matriculado em uma as seis entidades conveniadas. Terminado o curso, o diploma é expedido por uma delas.

O sistema do Cederj é formado por cem docentes, que desenvolvem o material didático. Há também 75 técnicos (diagramadores, webdesigners, editores de vídeo, produtores gráficos, etc.), responsáveis pela produção desse material, livros, vídeos e, principalmente, para a atualização do ambiente eletrônico (universidade virtual) em que trabalham os alunos.

O computador e a Internet estão entre as principais ferramentas de trabalho do Cederj. Mas, como muitos alunos não possuem acesso à tecnologia e a maior parte mora distante das instituições conveniadas, o consórcio tem 18 pólos regionais espalhados pelo Rio. Os alunos se dirigem a esses pontos periodicamente, onde encontram, além de computadores, tutores para orientar o aprendizado e tirar dúvidas.

Há consórcios privados, como a UVB, - Universidade Virtual Brasileira . A UVB, criada em maio de 2000, estava composta por dez instituições: Universidade Anhembi Morumbi, SP Universidade da Amazônia, PA Universidade do Sul de Santa Catarina, SC, Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, MS, Universidade Potiguar, RN, Universidade Veiga de Almeida, RJ Centro Universitário Monte Serrat, SP, Centro Universitário Newton Paiva, MG. Centro Universitário do Triângulo, MG, Centro Universitário Vila Velha, ES. Desenvolve cursos de graduação em administração e marketing, alguns de lato sensu e de extensão. A realidade atual está distante das expectativas e promessas iniciais, embora tenha boas condições de crescer no futuro. Num consórcio há que aprender a integrar culturas organizacionais diferentes, formas de gestão diferentes, tempos diferentes, pessoas diferentes. E isso requer aprendizagem, flexibilidade, tempo para acertar arestas, encontrar os mesmos caminhos.

Um consórcio que cresce com cuidado e que pode evoluir muito é o RICESU- Rede de Instituições Católicas de Ensino Superior – integrada por 14 instituições católicas brasileiras e que começa com a revista virtual Colabor@ de educação a distância e com a construção de uma biblioteca virtual e digital comum. Numa segunda etapa disponibiliza os cursos das diversas instituições, procurando otimizar os recursos, a infra-estrutura física, tecnológica e de conhecimento consolidado. Cada instituição preserva sua identidade em EAD, sua forma de atuar nela. Possivelmente numa outra etapa haverá uma maior integração.

A sua evolução é lenta, mas firme. Como cada instituição tem liberdade de escolher o design dos cursos, a integração pode demorar mais, porque algumas instituições só oferecem cursos pela Internet, como a Católica de Brasília, enquanto que a PUC-RS utiliza também vídeo e teleconferência.



Modelo de aulas por teleconferência

O modelo que mais se estendeu nestes últimos anos é o das tele-aulas por satélite e interação pela Internet. São instituições que oferecem aulas ao vivo por satélite para centenas de salas, tutoria local, atividades presenciais e complemento na WEB. Têm um potencial imenso de expansão pela capacidade de atendimento a milhares de alunos simultaneamente e de fácil instalação tecnológica. A educação a distância está presente em municípios que sequer contavam com instituições de ensino tradicionais.

O modelo gerador dos cursos atuais em EAD surge no avanço das aulas de videoconferência dos cursos de Mestrado e Doutorado a Distância da Universidade Federal de Santa Catarina, fundamentalmente por videoconferência. Um desses cursos com a Tecpar gerou a Universidade Eletrônica, que criou propostas inovadoras em 1998, integrando videoconferência, material impresso e Internet, no Curso Normal Superior com Mídias Interativas, que ofereceu em parceria com a Universidade de Ponta Grossa, no Paraná. A partir desta experiência, outros grupos foram surgindo e implementaram propostas semelhantes. Merecem destaque os cursos do PEC-SP, cursos de capacitação de professores em serviço da Rede Estadual e Municipal de São Paulo, que seguiram esse modelo capacitando mais de 12 mil professores. Outras universidades trocaram a videoconferência por tele-aulas por satélite e se expandiram com maior rapidez. Seguem este modelo, entre outras, a Universidade do Norte do Paraná – UNOPAR , de Londrina, a FACINTER de Curitiba , a EDUCOM , hoje com sede na cidade da Lapa, no Paraná. Outros grupos chegam posteriormente às tele-aulas, como a Faculdade de Ciências e Tecnologia – FTC – de Salvador , que importou um grupo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, e a UNIDERP , de Campo Grande, MS. Estas instituições operam com o modelo de aulas ao vivo para dezenas ou centenas de tele-salas, simultaneamente, onde em cada uma há uma turma de até cinqüenta alunos que assiste a essas aulas ao vivo, sob a supervisão de um tutor local e que realiza algumas atividades complementares na sala.

A interatividade se dá a partir da comunicação entre alunos e professores através de perguntas mandadas via Internet pelo chat e que podem ser respondidas ao vivo via teleconferência, depois de passarem por um filtro de professores auxiliares ou tutores. Essas aulas são complementadas com atividades de leitura e pesquisa, coordenadas por um tutor eletrônico, um tutor a distância. Os alunos tem professores das disciplinas, um tutor presencial e um virtual que os acompanham ao longo do curso. Além das aulas e das atividades presenciais, os alunos desenvolvem atividades de leitura e pesquisa individualmente, a partir de material impresso recebido ou disponibilizado na WEB.

É um modelo que está sendo utilizado mais na formação de professores, Normal Superior e Licenciaturas e que, diante da demanda existente, tem se espalhado com incrível rapidez nestes últimos três anos, dada a facilidade de criar tele-salas em parceria com instituições regionais. Atingem fundamentalmente os professores em serviço ou futuros professores que têm dificuldade de pagar um curso presencial ou que moram longe dos grandes centros e que têm dificuldade de deixar a sua cidade de origem. Algumas destas instituições conseguem abrir vestibulares para 10 mil alunos de uma vez e conseguem chegar em pouco tempo a mais de trinta mil alunos a distância. É um fenômeno novo, de grande impacto na educação e que, por ser recente, ainda não está sendo muito divulgado e pesquisado.

O sucesso da tele-aula se deve a que consegue fazer uma passagem mais fácil para a EAD, retoma o contato com o professor, a relação olho-no-olho. Mesmo uma parte das atividades são feitas localmente, em grupo, com um mediador (tutor ou professor assistente).

Os alunos não precisam de tanta autonomia para gerenciar o tempo. Parece um curso presencial, com menos aulas e é mais barato. O custo sem dúvida é outro enorme atrativo. Muitos alunos de cursos de formação de professores me disseram que era a única forma de acesso ao ensino superior, diante da impossibilidade de bancar os custos dos cursos presenciais.

Outro fator de sucesso é que o custo das transmissões por satélite vem diminuindo e tornam cada vez mais viável a abertura de novas salas. A infra-estrutura local é relativamente simples e econômica. Costumam ser utilizados prédios ou salas ociosos, principalmente, a noite, de colégios que só funcionam no período diurno.

Com o crescimento rápido do número de alunos, de pólos, de tele-salas fica, na minha avaliação, muito difícil manter a qualidade. Com o tempo, o projeto original apresentado ao MEC vai sendo adaptado, modificado e, em geral, banalizado. Os cursos de grande número de alunos costumam ir diminuindo o processo e tempo de qualificação dos professores tutores ou assistentes, o seu acompanhamento. Esse tutor costuma ser chamado para agir de forma generalista, isto é, é tutor de todas as disciplinas. Na prática o seu papel de orientação de aprendizagem e de facilitador, intelectual e emocional, implica em conhecimentos superiores aos exigidos. O crescimento rápido e a multiplicação do número de alunos, com a equipe de coordenação praticamente idêntica, sobrecarrega algumas pessoas que, por serem competentes, são cada vez mais solicitadas, tornando o seu trabalho mais superficial pela quantidade de demandas que são obrigadas a assumir.



O modelo aula gravada e tutoria

Existem cursos superiores a distância que focam muito a gravação de aula, com bons recursos e especialistas e apostam depois no oferecimento desses conteúdos em vídeo ou CD com apoio de tutor local. O exemplo mais significativo é o IESDE, de Curitiba , que privilegia a gravação das aulas com bons profissionais em vídeo e oferece as aulas com tutores presenciais, o mesmo para todas as disciplinas de um curso. É um modelo baseado na transmissão de conteúdos, até para cursos de formação de professores. Mesmo que as aulas sejam interessantes, o tutor generalista dificilmente tem condições de aprofundar as questões, as atividades previstas e de adaptá-las à cada situação concreta. Falta-lhe até agora a este modelo, a interação com professores mais experientes que supervisionem os tutores e que criem possibilidades de pesquisa real e de interação mais rica e abrangente.



Outros Modelos em EAD

Outras universidades, principalmente públicas, como a Federal do Paraná, a UDESC – Universidade Estadual de Santa Catarina, a como a Federal de Alagoas, a de Ouro Preto, partem do material impresso e evoluem para a Internet como apoio e aperfeiçoam a tutoria, a interação. Na medida em que avança a Internet, ela passa a ser mais utilizada principalmente para a interação, para a tutoria, para o apoio ao aluno. Entre as instituições privadas, a pioneira foi a AIEC – Associação Internacional de Educação Continuada - de Brasília com o curso de Administração e a PUC-RS com o de Engenharia Química.

O curso de Administração a distância da AIEC tem metodologia semi-presencial, isto é, o aluno realiza atividades a distância e atividades presenciais, tanto via rede como em sala de aula. As turmas são compostas por até 50 alunos, que se reúnem periodicamente sob a orientação do tutor, para discutir casos ou realizar atividades práticas. Nessas reuniões, o tutor atua como moderador e como facilitador das discussões. Cada aluno participa de um pequeno grupo. Os grupos são importantes para a execução de trabalhos de forma cooperativa com os colegas e também para que o aluno não se sinta isolado. A interação se faz por e-mail, fórum, chat ou telefone, visando debater os temas do conteúdo, preparar os casos para discussão ou auxiliar o colega nas possíveis dúvidas. O conteúdo das disciplinas é disponibilizado na rede, por meio de um gerenciador específico, juntamente com as orientações para o bom rendimento no estudo. Cada disciplina é dividida em unidades de ensino que apresentam os textos básicos, leituras adicionais e casos. Os textos básicos são preparados para o estudo individual, com ilustrações, hotwords e links para outras páginas. Enquanto estuda, o aluno pode testar sua compreensão por meio de exercícios corrigidos imediatamente, anotar seus comentários e elaborar resumos em espaço reservado para isso. A aprendizagem de cada aluno é avaliada a partir do resultado das provas presenciais e da participação nas discussões e trabalhos nos grandes e pequenos grupos. Durante todo o período de curso, o Tutor da turma estará fazendo o acompanhamento e a orientação da vida acadêmica do aluno e analisando seu perfil para fins de estágios e emprego.

Merece destaque o avanço da Unisul, em Santa Catarina, na implantação de cursos que utilizam o material impresso como suporte e a Internet para interação. Também estão evoluindo bastante o Senai, o Sesi e o Senac na oferta de cursos a distância, apoiando-se em material impresso, Internet e algumas vídeo ou teleconferências. A dificuldade maior é conseguir atingir uma gestão ágil e coordenada dentro e entre as instituições.



A educação on-line

Outro modelo a distância predominante é pela Internet e redes digitais, mais conhecido como educação on-line, onde o aluno se conecta a uma plataforma virtual e lá encontra materiais, tutoria e colegas para aprender com diferentes formas de organização da aprendizagem: umas mais focadas em conteúdos prontos e atividades até chegarmos a outras mais focadas em pesquisa, projetos e atividades colaborativas, onde há alguns conteúdos, mas o centro é o desenvolvimento de uma aprendizagem ativa e compartilhada.

O foco em projetos colaborativos se desenvolve com rapidez e traz um dinamismo novo para a EAD. Há cursos que se apóiam em cases, em análise de situações concretas ou em jogos, o que lhes conferem muito dinamismo, participação e ligação grande com o mercado.

Muitas das dificuldades do on-line é que é confundido com o modelo assíncrono em que cada aluno começa em um período diferente, estuda sozinho e tem pouca orientação.

Hoje há muitas opções diferentes de estudos on-line e caminhamos para termos ainda o on-line com muitas mais opções audiovisuais, interativas, fáceis de acessar e gerenciar e a custos bastante baixos.

Temos os cursos on-line assíncronos, baseados em conteúdos prontos e algum grau de tutoria, em que os alunos se inscrevem a qualquer momento.

Temos o mesmo tipo de cursos, com mais interação. Os alunos participam de grupos, de debates como parte das estratégias de aprendizagem. Combinam atividades individuais e de grupo e têm também uma orientação mais permanente.



Um outro tipo de cursos on-line têm períodos pré-estabelecidos. Começam em datas previstas e vão até o final com a mesma turma, como acontece em muitos cursos presenciais atualmente. Dentro desse formato, há dois modelos básicos, com variáveis.

O modelo centrado em conteúdos, em que o importante é a compreensão de textos, a capacidade de selecionar, de comparar e de interpretar idéias análise de situações. Esses conteúdos podem estar disponíveis no ambiente virtual do curso e também em textos impressos ou em CD-s que os alunos recebem. Geralmente há tutores para tirar dúvidas e alguma ferramenta de comunicação assíncrona como o fórum.



E há um segundo modelo em que se combinam leituras, atividades de compreensão individuais, produção de textos individuais, discussões em grupo, pesquisas e projetos em grupo, produção de grupo e tutoria bastante intensa. Nos cursos on-line que começam em períodos certos, com tempos pré-determinados é mais fácil formar grupos, trabalhar com módulos.

O conteúdo do curso e as atividades em parte estão preparados, mas dependem muito da qualidade e integração do grupo, da colaboração. É mais focado em colaboração do que em leitura de textos. O importante neste grupo são as discussões, o desenvolvimento de projetos e atividades colaborativas. O curso em parte está pronto e em parte é construído por cada grupo.

“Uma comunidade de aprendizagem on-line é muito mais que apenas um instrutor interagindo mais com alunos e alunos interagindo mais entre si. É, na verdade, a criação de um espaço no qual alunos e docentes podem se conectar como iguais em um processo de aprendizagem, onde podem se conectar como seres humanos. Logo eles passam a se conhecer e a sentir que estão juntos em alguma coisa. Eles estão trabalhando com um fim comum, juntos”.

Uma variável deste modelo inclui alguns encontros ao vivo, que podem ser para aulas expositivas, ou para tirar dúvidas ou para apresentação de pesquisas. É um on-line mais semi-presencial.



A EAD como política pública

O Ministério de Educação está implantando uma política de democratização da educação a distância no ensino superior e na educação básica de forma sólida e pro-ativa, nestes últimos anos. Um dos programas mais consolidados da Secretaria de Educação a Distância do MEC é o Proformação que já capacitou 30 mil professores desde 1999. O Programa de Formação de Professores em Exercício - Proformação é um curso a distância, em nível médio, com habilitação para o magistério na modalidade Normal, realizado pelo MEC em parceria com os estados e municípios. Destina-se aos professores que, sem formação específica, encontram-se lecionando nas quatro séries iniciais, classes de alfabetização, ou Educação de Jovens e Adultos - EJA, nas redes públicas de ensino do país.

O Ministério da Educação está implementando o projeto Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício no Ensino Fundamental e no Ensino Médio (Pró-Licenciatura) . O Programa apóia o oferecimento de cursos de licenciatura a distância para professores da rede pública em exercício nos anos/séries finais do ensino fundamental e no ensino médio, sem habilitação na disciplina em que estejam exercendo a docência. Estão participando Instituições de Ensino Superior (IES) públicas, comunitárias ou confessionais interessadas, em parceria.

O MEC criou em outubro de 2005 a UAB - a universidade aberta do Brasil. Não é uma universidade tradicional, mas um sistema nacional de ensino superior a distância que conta com a participação de instituições públicas de educação superior e em parceria com estados e municípios. O principal objetivo da UAB é oferecer formação inicial de professores em efetivo exercício da educação básica pública que ainda não têm graduação, o que significa atender a demanda de milhares de professores, formar novos docentes e propiciar formação continuada a quase dois milhões de profissionais. Também está focando todas as licenciaturas e alguns cursos de graduação para atender regiões carentes. Pretende atingir rapidamente cem mil alunos no ensino superior.





Mudanças que a EAD está provocando na educação presencial

Como avaliador do MEC de cursos superiores a distância, tenho ouvido, repetidas vezes, testemunhos de professores e coordenadores sobre o impacto inesperado dos bons cursos de educação a distância nos cursos regulares presenciais. Na implantação da EAD costuma haver, nas universidades, uma certa desconfiança inicial e até um distanciamento generalizado. Alguns professores, chamados para escrever textos, percebem que não basta serem especialistas em sua área; precisam aprender a escrever de forma coloquial para os alunos, a comunicarem-se afetivamente com eles, a preparar atividades detalhadas. Mais tarde, convidados a gerenciar alguns módulos a distância ou a supervisionar as atividades de professores-assistentes ou tutores, constatam que a organização de atividades a distância exige planejamento, dedicação, comunicação e avaliação bem executados; caso contrário, os alunos se desmotivam e desaparecem.

Esses mesmos professores, ao voltar para as salas de aula presenciais, costumam ter uma sensação de estranhamento, de que no presencial falta algo; de que o planejamento é muito menos rigoroso, que as atividades em sala são muito menos previstas, que o material poderia ser mais adequado e que a avaliação é decidida, muitas vezes, ao sabor dos acontecimentos. Professores e alunos, ao ter acesso a bons materiais a distância, costumam trazê-los também para a sala de aula presencial e isso vem contribuindo para a diminuição da separação que ainda há entre os que fazem cursos a distância e os presenciais, nas universidades.

Um exemplo claro da influência de um curso a distância no ensino presencial o testemunhei em Belo Horizonte, no reconhecimento do curso Veredas, de formação superior para professores em serviço, realizado por 18 instituições de Ensino Superior de Minas Gerais. Estavam presentes as equipes de coordenação das três universidades de Belo Horizonte participantes: A UFMG - Universidade Federal, a UEMG - Universidade Estadual - e a FUMEC - Fundação Mineira de Educação e Cultura. Todas as pessoas destacaram a importância do Projeto Veredas para a melhoria dos cursos presenciais de educação. Um impacto importante acontece na relação entre professores e alunos. O conceito de tutoria desloca o foco da aprendizagem para os alunos e exige um contato freqüente, um acompanhamento individual bem diferente da forma como habitualmente o professor age em relação aos alunos presenciais, onde costuma focar o grupo, a maioria, a média.

A EAD on-line, que utiliza tecnologias interconectadas, está contribuindo para superar a imagem de individualismo, de que o aluno em EAD tem que ser um ser solitário, isolado em um mundo de leitura e atividades distantes do mundo e dos outros.

A Internet traz a flexibilidade de acesso junto com a possibilidade de interação e participação. Combina o melhor do off line, do acesso quando a pessoa quiser com o on-line, a possibilidade de conexão, de estar junto, de orientar, de tirar dúvidas, de trocar resultados.

A EAD on-line nos mostra a importância do planejamento, da organização, da preparação de bons materiais. Bons materiais, fáceis de compreender, de navegar, facilitam imensamente o trabalho do aluno.

A EAD nos mostra a importância do auto-estudo, da aprendizagem dirigida. O professor não precisa concentrar toda a sua energia em transmitir a informação. Pode disponibilizar materiais para leitura individual e realização de atividades programadas, pesquisas, projetos, combinando o seu papel de informador com o de mediador e o de contextualizador. Os cursos presenciais poderiam ter um mix de informação, pesquisa (individual e grupal) e auto-estudo.

Ela nos faz descobrir como é importante estarmos juntos, e como, ao estarmos juntos, podemos resolver facilmente os problemas de aprendizagem, as dúvidas. O estar juntos facilita a criação de confiança, de laços afetivos. Destaca o papel fundamental do tutor na criação de laços afetivos. Os cursos que obtêm sucesso, que tem menos evasão, dão muita ênfase ao atendimento do aluno, à criação de vínculos, de laços afetivos.

A educação on-line a distância nos liberta do modelo de um professor para um grupo de alunos como o único possível. É um luxo ter um grande profissional somente para poucos alunos. O grande especialista, o professor brilhante, pode ter hoje muitas mais chances de mostrar o seu valor. Pode participar de cursos em que é o professor responsável, com aulas magistrais, que são completadas e atualizadas por professores assistentes em vários estados e grupos. Os grandes professores podem transformar-se em orientadores, em palestrantes, em coordenadores de atividades de muitos grupos.

A educação on-line de qualidade reafirma um princípio por demais conhecido de que o foco principal está na aprendizagem mais do que no ensino. E o faz concentrando toda a proposta pedagógica em que o aluno aprenda sozinho e em grupo, com leituras, pesquisas, projetos e outras atividades propostas de forma equilibrada, progressiva e bem dosadas ao longo do curso.

Na EAD a maior parte do tempo do professor não é “lecionar”, mas acompanhar, gerenciar, supervisionar, avaliar o que está acontecendo ao longo do curso. O papel do professor muda claramente: orienta, mais do que explica. Isto também pode acontecer na educação presencial; mas até agora desenvolvemos a cultura da centralidade do papel do professor como o falante, o que informa, o que dá as respostas. A EAD de qualidade nos mostra algumas formas de focar mais a aprendizagem do que o ensino.

Um bom curso a distância possui um equilíbrio entre atividades individuais e a aprendizagem colaborativa, em grupos. Esse equilíbrio pode ser incorporado no ensino presencial: Os alunos podem desenvolver atividades sozinhos e outras em grupos, participando de projetos, pesquisas e outras atividades compartilhadas. Para isso, não precisam ir todos os dias para uma mesma sala, estar com professores em tempos e horários totalmente previsíveis. Alunos com acesso em outros locais que a universidade, podem realizar as atividades colaborativas sem estar juntos, mas conectados. Alunos com dificuldades de acesso, o encontrarão na própria universidade em salas conectadas, como bibliotecas e laboratórios. Justifica-se assim uma maior flexibilidade de organização dos horários e tempos de sala de aula e de outros tempos de aprendizagem supervisionada, sem necessariamente obrigar os alunos a estarem no mesmo lugar e tempo com o professor.

O design educacional de um curso a distância também pode ser adaptado, em determinados momentos, ao presencial. Algumas disciplinas mais básicas ou comuns a vários cursos podem ser colocadas na WEB depois de um bom planejamento e desenho do curso. Esse material, leve, atraente e comunicativo pode servir de base para a informação necessária do aluno, para que o aluno o acesse pessoalmente, antes de realizar algumas atividades. Essas disciplinas com o material na WEB podem ser compartilhadas por mais de um professor ou tutor, quando são muitos os alunos. Isso permite que essas disciplinas possam ser oferecidas quase integralmente a distância.

Muitas instituições hoje estão colocando algumas disciplinas a distância em cursos presenciais como parte dos vinte por cento possíveis. Em geral as universidades começam por disciplinas de recuperação como forma de poder atender aos alunos com mais dificuldades e evitar também o inchaço de turmas. Depois, oferecem a distância disciplinas comuns a vários cursos como Metodologia de Pesquisa, Sociologia e outras semelhantes.

O currículo pode ser flexibilizado, segundo as portarias 2253 e 4.059 do MEC, em 20% da carga total. Algumas disciplinas podem ser oferecidas total ou parcialmente a distância. O vinte por cento é uma etapa inicial de criação de cultura on-line. Mais tarde, cada universidade irá definir qual é o ponto de equilíbrio entre o presencial e o virtual em cada área do conhecimento. Não podemos definir a priori uma porcentagem aplicável de forma generalizada a todas as situações. Algumas disciplinas necessitam de maior presença física, como as que utilizam laboratório, as que precisam de interação corporal (dança, teatro....). O importante é experimentar diversas soluções para diversos cursos. Todos estamos aprendendo.



Mudanças que a educação presencial conectada está provocando na educação a distância

A combinação de tecnologias em rede e inovações no ensino presencial estão modificando as formas de organização da educação a distância. Até pouco tempo atrás o importante era o conteúdo. Toda a ênfase era dada ao design dos materiais, para que fossem auto-instrucionais, para que o aluno, sozinho, conseguisse acompanhar e se motivar para continuar aprendendo.

Agora muitos cursos de EAD estão percebendo que o material sozinho não é suficiente para a maior parte dos alunos. Bons materiais auto-explicativos, mesmo feitos com multimídia, não costumam ser suficientes para que os alunos se motivem, aprendam, a longo prazo. Em cursos de longa duração e com alunos jovens, a interação é cada vez mais importante: a assessoria, a tutoria, ter alguém por perto, a participação em grupo, o sentimento de pertença a um grupo é fundamental.

Hoje há uma revalorização do contato, do estarmos juntos, dos momentos presenciais significativos, porque isso contribui para diminuir o índice tradicional de evasão. Quanto mais interação, atenção ao aluno, menor é a desistência.

A EAD on-line está permitindo a combinação de ter professores perto do aluno (presenciais), professores que orientam pela Internet (professores-assistentes) e professores autores, professores com maior experiência, responsáveis por todo o processo, e que, direta ou indiretamente, atingem a centenas ou milhares de alunos, quando antes só podiam, no presencial, fazê-lo com grupos restritos.

São muitos os cursos que destacam a importância da interação com o aluno como elemento fundamental do sucesso de um curso a distância. Destaco este de Bioquímica da Unicamp:

“Ainda que geograficamente distantes, os alunos não se sentiram isolados e/ou desamparados. O intenso diálogo estabelecido foi a principal variável que contribuiu para este resultado. Declarações dos alunos sobre as interações (estabelecimento de diálogo) fortalecem essas conclusões.”

Além da interação on-line, os cursos a distância estão redescobrindo a importância de, quando possível, os alunos se conhecerem também presencialmente. É freqüente a organização de semanas presenciais, no começo e no fim de um módulo ou de um curso.

A EAD está aprendendo também com os novos cursos presenciais a importância de que o aluno pesquise, sozinho e em grupo, o que é importante. O texto serve como guia, como ponto de partida, mas a pesquisa é um componente fundamental da aprendizagem a distância. A Internet facilita muito as possibilidades da pesquisa, de encontrar materiais significativos, embora, esta mesma quantidade complica a escolha do que é mais relevante. Os textos impressos são rígidos, difíceis de atualizar pelo custo da impressão. Com a Internet, a possibilidade de atualização é imediata e barata. Isso permite combinar materiais programados, impressos com atualizações on-line, constantes. Isso está trazendo um dinamismo inédito para a EAD, uma possibilidade de competir, pela primeira vez, com o presencial na oferta de condições para o aluno acessar materiais atualizados. Antes os materiais de EAD estavam melhor planejados, mas ficavam rapidamente desatualizados. Hoje, não mais.

A EAD atual, com o avanço dos cursos on-line, está podendo desenvolver estratégias variadas de aprendizagem: Hoje há muitos jogos on-line, principalmente em cursos ligados a empresas, como forma de experimentar situações possíveis na vida profissional, unindo o lúdico e a simulação de experiências diferentes. Há uma combinação maior de estratégias individuais e grupais, de atividades programadas, previstas e outras adaptadas aos grupos específicos. Hoje existem cursos com alunos em vários países, ou que permitem o seu acompanhamento on-line mesmo em deslocamento constante pelo país ou pelo exterior. Isto é novo, é algo que as tecnologias o permitem agora, e que antes seria muito mais caro e precário.

A EAD atual, com a Internet, está podendo diversificar as formas de avaliação. Pode combinar momentos de avaliação a distância com os presenciais, de avaliação do conteúdo e do processo, das atividades individuais e grupais, da construção individual (pesquisa, portfólio) com a coletiva. Isso é novo e até há pouco, sem a Internet, seria muito mais difícil de realizar e gerenciar.



Avanços e problemas em EAD

Há avanços significativos. Diante das dificuldades em atender a milhares de pessoas sem formação adequada, o Governo vem aderindo e incentivando ações a distância. Ao assumir o governo a Universidade Aberta a Distância - idéia antiga que nunca vingou no Brasil e que agora renasce não como uma universidade própria, mas como apoio às iniciativas das universidades públicas na formação de professores e na interação entre empresas e universidades para formação profissional - entra o Brasil numa etapa de amadurecimento da Educação a Distância, de legitimação e de consolidação das instituições competentes. Os recursos econômicos da Secretaria de Educação a Distância -SEED são importantes para que as universidades públicas superem as dificuldades internas de gestão e atuem em conjunto para atender às especificações das licitações do MEC. Constato que muitas universidades estão se capacitando para atuar, estão buscando responder rapidamente às demandas oficiais. É importante garantir recursos não só para a produção de materiais para novos cursos, mas também para a sua implementação e continuidade posterior.

Apesar do preconceito ainda existente, hoje há muito mais compreensão de que a EAD é fundamental para o país. Temos mais de 200 instituições de ensino superior atuando de alguma forma em EAD. O crescimento exponencial dos últimos anos é um indicador sólido de que a EAD é mais aceita do que antes. Mas ainda é vista como um caminho para ações de impacto ou supletivas. É vista como uma forma de atingir quem está no interior, quem tem poucos recursos econômicos, quem não pode freqüentar uma instituição presencial ou para atingir rapidamente metas de grande impacto.

O Brasil passou da fase importadora de modelos, para a consolidação de modelos adaptados à nossa realidade. Os cursos por tele-aulas tornam a EAD menos “distante” dos presenciais, porque ampliam e multiplicam a aula ao vivo e isso diminui a sensação de individualismo e solidão que muitos alunos sentem em cursos só baseados em conteúdos impressos ou na WEB.

Há cursos baseados em colaboração, em participação real e grupal na aprendizagem. O foco em projetos colaborativos também se desenvolve com rapidez e traz um dinamismo novo para a EAD. Outros se apóiam em cases, em análise de situações concretas, o que lhes confere uma ligação grande com o mercado e com uma pedagogia participativa.

Já foi apontado antes que nos cursos de grande número de alunos costuma diminuir a qualidade, as exigências de capacitação da equipe pedagógica, principalmente tutoria. Em alguns cursos de tele-aulas, o acesso à Internet é importante para a pesquisa, a realização e o envio de atividades. Em alguns estados, esse acesso à Internet é muito mais complicado e não há computadores suficientes para os alunos, nos encontros presenciais. E os alunos em cidades grandes dificilmente voltam para o pólo local, depois das tele-aulas, para fazer pesquisa e atividades on-line. Em um desses sistemas de tele-aulas um coordenador me disse que em alguns estados o índice dos alunos que acessavam à Internet em alguns estados não chegava ao cinqüenta por cento. Como o curso exigia esse acesso, significa que metade dos alunos deixava de realizar atividades importantes de aprendizagem e eram aprovados. Assim como no presencial, em alguns pólos locais, tenho observado bastantes alunos fora da sala de aula, que marcam a presença e depois saem durante as tele-aulas. Por outro lado, prestar atenção durante duas horas em um monitor de 29 polegadas para uma sala grande, não é fácil (esse problema fica amenizado quando há na sala um projetor multimídia com projeção em tela grande).

As instituições estão aprendendo rapidamente a fazer EAD e isso é uma grande vantagem. Queimamos etapas, aprendemos fazendo. Mas os modelos costumam caminhar para uma certa simplificação, um nível de exigência menor que o inicial, diante de demandas grandes. A avaliação presencial tende a ser feita na forma de prova, em geral de múltipla escolha, o que levanta dúvidas se esse instrumento é eficaz para verificar a aprendizagem significativa. O argumento de alguns responsáveis por EAD é que no presencial também acontece a banalização do ensino e que é difícil avaliar milhares de alunos simultaneamente com provas dissertativas. As críticas ao presencial mal feito não eximem a EAD de tentar formas de avaliação mais formativas do que somativas e conteudísticas.

Quando se critica o nível de exigência ao aluno em alguns cursos de EAD, apresentam-se pesquisas de grau de satisfação dos alunos, em geral alto. Considero importante esse feedback de satisfação dos alunos. Tenho eu feito com freqüência esse contato com alunos em diversos estados brasileiros e constato que para muitos deles a EAD é um grande caminho de inclusão e de crescimento. Aumenta a sua auto-estima e isso é muito importante. Tenho, porém, dúvidas de se o aluno se torna um pesquisador, se caminha para a autonomia intelectual (essa mesma dúvida tenho em relação a muitos cursos presenciais). O material didático em EAD é muito desigual. Algumas instituições, como o Cederj, têm um processo de produção bastante rigoroso, enquanto outras oferecem aos alunos um material barato impresso, com pouca interação ou é disponibilizado na WEB para muitos alunos sem acesso regular à rede.

É comum também a confusão dos alunos, principalmente nos cursos de especialização, com certos nomes de autores de conteúdo famosos, que são apresentados para os alunos como participantes da equipe de gestão do curso, quando, na prática, esses autores costumam só participar na fase da elaboração do conteúdo ou na gravação de algum vídeo pontual. Há muito marketing em alguns campos, que beira a propaganda enganosa.

Algumas universidades, principalmente públicas, têm uma dificuldade grande de gerenciar seus cursos, pessoas e recursos em EAD. Em duas universidades grandes, como avaliador, encontrei cursos de especialização funcionando sem que os diversos responsáveis e grupos se conhecessem e, muito menos, interagissem dentro da mesma universidade. Utilizavam plataformas diferentes, pessoas em funções semelhantes, duplicadas. Cursos como esses surgiram de iniciativas individuais, isoladas, dentro de departamentos, sem um planejamento institucional.

Outro grande problema, principalmente das públicas, é a continuidade da gestão. Muitas iniciativas perdem força quando o responsável pela iniciativa se aposenta ou se afasta. Alguns cursos são oferecidos esporadicamente, sem continuidade, o que impede um crescimento significativo.

Precisa, na EAD como no presencial, conciliar duas dimensões contraditórias, em parte: participação, descentralização de decisões, flexibilidade na gestão com comando, liderança, visão estratégica. Em universidades grandes, principalmente de gestão pública, a quantidade de instâncias intermediárias (Conselhos representativos em vários níveis hierárquicos), de um lado, garante uma maior participação dos vários segmentos representados, mas, na prática, se tornam fins em si mesmos, não possuem visão de conjunto, privilegiam seus grupos de apoio e retardam decisões estratégicas. Em universidades com forte liderança de gestão, as decisões são mais rápidas, se avança mais rapidamente, mas costumam ser tomadas sem real consenso, sem consulta verdadeira e levando em conta mais as questões administrativo-financeiras do que as inovações didáticas necessárias.





Conclusão

Reconhecendo as inúmeras vantagens da educação a distância, continuo preocupado com os modelos da maioria dos cursos focados, tanto a distância como presenciais, mais no conteúdo do que na pesquisa; na leitura pronta mais do que na investigação e em projetos. O ensino superior, tanto no presencial como no a distância, reproduz, ainda, um modelo inadequado para a sociedade da informação e do conhecimento, onde nos encontramos.

Com as tecnologias cada vez mais rápidas e integradas, o conceito de presença e distância se altera profundamente e as formas de ensinar e aprender também. Estamos caminhando para uma aproximação sem precedentes entre os cursos presenciais (cada vez mais semi-presenciais) e os a distância. Os presenciais começam a ter disciplinas parcialmente a distância e outras totalmente a distância. E os mesmos professores que estão no presencial-virtual começam a atuar também na educação a distância. Teremos inúmeras possibilidades de aprendizagem que combinarão o melhor do presencial (quando possível) com as facilidades do virtual.

Em poucos anos dificilmente teremos um curso totalmente presencial. Por isso caminhamos para fórmulas diferentes de organização de processos de ensino-aprendizagem. Vale a pena inovar, testar, experimentar, porque avançaremos mais rapidamente e com segurança na busca destes novos modelos que estejam de acordo com as mudanças rápidas que experimentamos em todos os campos e com a necessidade de aprender continuamente.

Caminhamos para uma flexibilização forte de cursos, tempos, espaços, gerenciamento, interação, metodologias, tecnologias, avaliação. Isso nos obriga a experimentar pessoal e institucionalmente modelos de cursos, de aulas, de técnicas, de pesquisa, de comunicação. É importante que os núcleos de educação a distância das universidades saiam do seu isolamento e se aproximem dos departamentos e grupos de professores interessados em flexibilizar suas aulas, que facilitem o trânsito entre o presencial e o virtual. Todas as universidades e organizações educacionais, em todos os níveis, precisam experimentar como integrar o presencial e o virtual, garantindo a aprendizagem significativa.

José Manuel Moran